sexta-feira, 30 de abril de 2010

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Sempre precisarei ser delicado para poder participar do que você diz, na verdade teria-se que pensar muito bem antes de não dizer algo estúpido, eu deveria apenas não dizer nada. Estou aqui parado ouvindo você, concordar com a cabeça ou dizer ''sim, claro'', ou ''claro, tem razão'', e por fim, ''claro, claro'', parece bem mais estúpido do que não saber o que dizer. Não sei como me portar, eu deveria tentar olhar diretamente nos olhos dela, sim talvez ela pense que estou entendendo o que ela diz, ou esteja achando que tudo que está dizendo não me interessa, mas é mentira, por favor escute meu pensamento agora, é mentira, eu estou adorando ser seu ouvinte, por mais que eu não entenda nada da sua psicologia, não interessa, errei desculpe, claro que interessa, porém não é algo que minha mente possa organizar agora. Talvez não faça sentido algum, mas eu preciso de alguém correto na minha vida agora, e você se encaixa nisso, por mais que o certo esteja sempre se inclinando para o errado, como eu disse nada faz sentido. É só um pensamento solto, palavras escorregadias, o certo envolto no errado, precisando do errado para estar certo, e estou tão longe de me achar digno de seu mundo perfeito, mas estou chegando, tal qual como um vagabundo, roubar-lhe dessa vida ilusória, ou tentar pelo menos...
Não estou mais ouvindo o que ela diz, sua boca apenas mexe-se, como se estivéssemos num filme e alguém que assiste apertou o botão mudo. Agora estou envolto em pensamentos, não me importo muito em concordar ou discordar de alguma coisa, eu apenas quero ficar um pouco com meus pensamentos tolos. Gostaria de sair do pacato, do morno, essa vida não me cai bem, gostaria de ouvir uma risada macia, mas tudo é silêncio dentro de mim; Os movimentos na sala aos poucos parecem tornar-se audíveis, já estão todos gritando por um feliz ano novo, não todos, apenas eu estou prendendo-me a solidões passadas.
Levanto-me tomando Marie pelo braço, num sorriso gentil, pergunto se ela não quer uma conversa mais informal, recebo um sorriso constrangido, tudo bem não foi tão ruim ser sincero.
Os fogos de artifício quebram a escuridão do céu, eu sou a imensidão negra do céu na sua noite festiva, lá estou eu fechado para tudo, estávamos olhando os fogos, quando Marie repousa sua mão na minha, estive certo de que ela sabia o que se passava em minha mente, e em minha antiga vida.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A vida real.

Levantei-me desnorteado achando já ser muito tarde, o sol lá fora parecia quente e pra mim isso era o suficiente para achar que poderia ser umas onze horas; mas claro não era, eu sempre errara essas coisas, deveria não me guiar muito por mim e nem pelo céu que me confudia.
Olhei no relógio, sete e meia da manhã, pensei rápido em todos os meus afazeres que deixei para hoje já que o sono me consumiu ontem, minha cabeça ainda persistia na ideia de que estava muito tarde, por mais que eu olhasse o enorme relógio na sala que marcava agora sete e trinta, era como tivesse horas a mais.
De repente meus olhos ficam a olhar para os ponteiros, aquele olhar de incompreensão que os cachorros fazem as vezes, ali estava eu com cara de cachorro, sem entender porque se passava na minha mente que era tarde, mas não era. Andei até a porta ainda olhando para o relógio, estava chovendo leve, o ar frio fazendo com que arrepiassem os pêlos de meu braço, espreguiço-me com vontade de voltar a dormir de novo, deixar tudo pendente, mas esta é a vida real, você tem um horário para acordar, para tomar café, horário para engolir seus remédios...
respirar, andar, mas você está atrasado, então tem de correr, e as horas te alarmam mais então você corre mais, não há tempo para chegar e tomar água, coloca suas pastas na mesa, liga o computador; sem tempo para bom dias, gentilezas, afinal, ao chegar em casa toda aquela correria dói nas suas pernas, no seu corpo. Eu ainda estava olhando as gotas da chuva caírem mais lentas, tocando o chão, pensar na vida era muito vago, pensar na chuva era melhor...
Quando ela atravessam raspando atrás de suas costas, tão rápidas querendo lhe acertar, mas não conseguem, pelo menos não esta.
Mas chega a gota vitoriosa, que passa por todas as outras e alcança sua blusa fina, e passa a gelar não só sua coluna mas todo o seu corpo, e o que nós fazemos?
Agora eu estou rindo por pensar que nunca tinha me dado conta de quantas raivas já tive por isso acontecer, por pisar numa posa, por tropeçar numa calçada, pelos pingos de chuva me atacam. Voltei a realidade, agora sim estava tarde, consegui terminar tudo que tinha de ser terminado, e saí na chuva, prestando atenção as calçadas, as poças, e principalmente gelado pelas gotas de chuva, porém quente por dentro, aquecido, eu sei agora porque estava tarde demais para tudo, a única coisa que não fez tudo se tornar tão tarde e tão alarmante é que eu acordei do pesadelo, de estar preso as horas e as obrigações, e parar um tempo para abrir um pouco a cortina de meus olhos, apreciar o frio, a chuva, apreciar uma vida nova, a nova vida real.

Inspiração para texto e título do livro A Vida Real de Fernando Sabino.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Auto reflexão.


Olhando para mim, tentando falar como eu sou se eu fosse outra pessoa,
como eu seria se não fosse do jeito que sou.
Somos como reis, nós que decidimos quem morre e quem vive, eu que devo dizer o que em
mim está morto, o que devo deixar viver.
Ah como seria mais fácil falar de si se fôssemos uma atriz que gostamos, ou o poeta que mais se prefere, porque todos eles teriam qualidades que eu não tenho [ou algo assim] e que gostaria de ter.
Então o melhor é aceitar-se da forma que se é, sabendo que você próprio pode mudar o que acha que deve mudar...

O reflexo de si é o mais difícil de se falar, é falar a você o que te machuca, você planeja uma mudança que talvez nunca aconteça pelo fato de não saber como, nem honestamente o porque disso. Isso é uma confusão que nossa própria mente projeta e está visível em nossos olhos para todos verem, mas não estão totalmente a mostra, só suas palavras te denunciam por inteiro, e te ferem igualmente.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Adoro, adoro, adoro.

"...Você é igual à decadência refletida em tudo. Todos fazemos parte da mesma podridão. Somos o único lixo que canta e dança no mundo.Você não é sua conta bancária nem as roupas que usa, você não é o conteúdo de sua carteira, você não é seu câncer de intestino, você não é seu café com leite, você não é o carro que dirige nem suas malditas gatinhas.Você precisa desistir. Você precisa saber que vai morrer um dia. Antes disso, você é um inútil. Será que nunca serei completo?..."

retirado do filme Clube da Luta.