quinta-feira, 29 de abril de 2010

A vida real.

Levantei-me desnorteado achando já ser muito tarde, o sol lá fora parecia quente e pra mim isso era o suficiente para achar que poderia ser umas onze horas; mas claro não era, eu sempre errara essas coisas, deveria não me guiar muito por mim e nem pelo céu que me confudia.
Olhei no relógio, sete e meia da manhã, pensei rápido em todos os meus afazeres que deixei para hoje já que o sono me consumiu ontem, minha cabeça ainda persistia na ideia de que estava muito tarde, por mais que eu olhasse o enorme relógio na sala que marcava agora sete e trinta, era como tivesse horas a mais.
De repente meus olhos ficam a olhar para os ponteiros, aquele olhar de incompreensão que os cachorros fazem as vezes, ali estava eu com cara de cachorro, sem entender porque se passava na minha mente que era tarde, mas não era. Andei até a porta ainda olhando para o relógio, estava chovendo leve, o ar frio fazendo com que arrepiassem os pêlos de meu braço, espreguiço-me com vontade de voltar a dormir de novo, deixar tudo pendente, mas esta é a vida real, você tem um horário para acordar, para tomar café, horário para engolir seus remédios...
respirar, andar, mas você está atrasado, então tem de correr, e as horas te alarmam mais então você corre mais, não há tempo para chegar e tomar água, coloca suas pastas na mesa, liga o computador; sem tempo para bom dias, gentilezas, afinal, ao chegar em casa toda aquela correria dói nas suas pernas, no seu corpo. Eu ainda estava olhando as gotas da chuva caírem mais lentas, tocando o chão, pensar na vida era muito vago, pensar na chuva era melhor...
Quando ela atravessam raspando atrás de suas costas, tão rápidas querendo lhe acertar, mas não conseguem, pelo menos não esta.
Mas chega a gota vitoriosa, que passa por todas as outras e alcança sua blusa fina, e passa a gelar não só sua coluna mas todo o seu corpo, e o que nós fazemos?
Agora eu estou rindo por pensar que nunca tinha me dado conta de quantas raivas já tive por isso acontecer, por pisar numa posa, por tropeçar numa calçada, pelos pingos de chuva me atacam. Voltei a realidade, agora sim estava tarde, consegui terminar tudo que tinha de ser terminado, e saí na chuva, prestando atenção as calçadas, as poças, e principalmente gelado pelas gotas de chuva, porém quente por dentro, aquecido, eu sei agora porque estava tarde demais para tudo, a única coisa que não fez tudo se tornar tão tarde e tão alarmante é que eu acordei do pesadelo, de estar preso as horas e as obrigações, e parar um tempo para abrir um pouco a cortina de meus olhos, apreciar o frio, a chuva, apreciar uma vida nova, a nova vida real.

Inspiração para texto e título do livro A Vida Real de Fernando Sabino.

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