quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ao destinatário inexistente.

Esta é uma carta com muito a dizer, espero que esteja legível.
Pois bem, como se sabe somos capazes de amar muitas pessoas independente de como sejam, quer sejam feias, baixas, bonitas, interessantes ou não.
Meu caro Senhor, como sofre este pobre peito sonhador que não tem sonhos próprios.
Este vive a mercê de outros sonhos, vagando em diferentes mundos e amores. Eis que uma névoa lhe cai sobre o rosto e ele adormece por anos, estando o coração assim ''morto'' eu vagava nessa atmosfera mórbida e indecente. Mas uma dia não sabendo andar a trilha de um caminho diferente, deparei-me com uma moça de boca e olhos alarmantes, cabelos e vestido ao vento.
Perguntei-lhe aonde eu estava e ela virando-se devagar me tocou nos dedos me trazendo para junto dela, pude sentir o frescor do orvalho vindo de suas vestimentas, quis leva-la para casa e fazer dela minha dama. Porém no dedo trazia uma aliança linda, e claramente grande para seu fino dedo; E ao me entregar disse:

- Me é tão preciso, é só o que tenho, é só o que posso lhe dar para que saia desse lugar antes do anoitecer...

No meu descuido a aliança caiu de minha mão e ao recupera-la olhei ao meu redor e estava eu lá, imerso...
e só.

Não é fácil andar num lugar desconhecido, mas, o mais interessante é saber como eu estava lá, eu que nunca saia de casa, nunca ficava na rua antes do sol esconder-se, eu que não entendia aonde ia, só o que me restava era achar a moça ou talvez a saída. Meus olhos pesavam de medo e meu corpo cansado e velho latejava, cheguei a um estranho lugar muito escuro, onde havia somente uma lamparina acessa e um homem dormindo numa cadeira , já era tarde e aquela floresta era fria, profunda. Acordei o pobre homem, que, quando me viu encarou o relógio e disse-me:

- O que o senhor faz aqui? - Ele parecia um homem bom, mas talvez nem tanto. Prosseguiu aproximando-se - Não é um bom lugar para se estar, acho que o senhor sabe muito bem disso.

Colocou uma voz grave no final a fim de pôr-me medo, mas eu já não estava, ajustei os óculos e vi a moça agora sentada na cadeira acariciando um gato quieto, ela olhava calmamente a situação.
Tentei explicar ao homem que não sabia como havia parado ali e que andei muito, que estava cansado e com fome logo o homem viu que eu não mentia e hospedou-me em sua casa que não ficava longe de onde estávamos. A casa era bem cuidada, sua posição era perfeita para ver o sol de manhã; O homem apresentou-se como Zarpheus , ele logo mostrou a casa, os aposentos e depois sua filha Nadine, como era bela e delicada pensei em silêncio, apenas dei a ela um leve sorriso de agrado. Zarpheus me contou histórias , entre elas o desaparecimento de sua esposa que foi repentino e doloroso, Nadine tinha somente cinco anos quando isso ocorreu. Dor no peito, algo acordou dentro de mim.

Acordei tão cedo que o sol apressou-se para que eu o visse sair, e que visão do paraíso, da janela se via a bela paisagem das árvores secas, as folhas verdes, um caminho de terra. Senti uma pontada súbita no coração, encostei-me no primeiro objeto que vi, falta de fôlego e a pergunta girava em minha cabeça onde está o ar?
Casa de ponta cabeça, eu sentia que estava caindo em câmera lenta e vendo Nadine nos meus olhos em minha frente. Ao despertar tive uma visão completa do ambiente e isso me deixou mais calmo, pude encontrar ar na minha alegria de estar vivo, percebi que alguém entrava então fingi que dormia, escutei o barulho dos sapatos, um ranger leve de pratos, colher e acho que ele batia com frequência no copo, depois alguém senta na cama, me acaricia os cabelos, um cheiro familiar, era Nadine. Continuo duro, imóvel, vontade de ser vinte anos mais jovem, mas não daria, ela fala baixo, levanta e vai andando, abro um olho, depois o outro e ela está na janela, olhando fixamente para fora e sem excitar me disse calma:

- Sabia que estava acordado.

Obs: Este é um texto incompleto sem data para ser terminado,
antigo e particularmente um xodó.

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